5 de março de 2012

Possessão diabólica: o diagnóstico católico


Possessão diabólica: o diagnóstico católico


"Para estabelecer a realidade
de uma possessão, um único método
é válido: provar a presença dos sinais
indicados no Ritual Romano”.

(Dom Louis de Cooman,
Bispo-missionário e exorcista)


Estados patológicos e possessão diabólica;
Problema complexo


Um dos problemas mais complexos colocados pela acção diabólica extraordinária sobre o homem é o seu diagnóstico. A questão consiste em saber quando estamos realmente em presença de uma acção preternatural (isto é, provocada por Anjos ou demónios) ou diante meras manifestações de morbidez, ou de outro gênero, por certo incomuns, mas que não escapam ao ambito dos fenómenos naturais da alçada da Medicina e outras ciências.

Nem sempre é fácil distinguir entre as infestações e possessões demoníacas e certos fenómenos de natureza mórbida, pois é sabido que inúmeros distúrbios patológicos, especialmente de carácter neuro-psiquiátrico, provocam estados de extrema agitação, duplicam as forças físicas, provocam fobias em relação às coisas sacras, etc. Em resumo, fazem o pobre doente parecer um possesso.

É o que faz notar o Cardeal Alexis Henri Marie Lépicier, O.SM.:

Sabemos que em algumas pessoas a imaginacção, estando fora do normal, pode ultrapassar os seus naturais limites e ser a origem de manifestações estranhas que, à primeira vista, apresentam uma certa afinidade com ocorrências preternaturais [isto é, produzidas por Anjos ou demónios]. ... Todos nós sabemos quantas perturbações pode causar uma doença nervosa em certas criaturas, como, por exemplo, nas que sofrem de esquisofrenia. Há, de facto, nas acções destes indivíduos muitas coisas que causam admiração. ... Mas é principalmente nos períodos de paroxismo que a histeria está mais apta a exibir muitos e curiosos fenómenos, o principal dos quais é a alucinacção.

“Toda gente vê, portanto, a necessidade imperiosa de estabelecer a distinção entre estes fenómenos e os que são devidos a causas preternaturais” (Card. A. Lepicier, O Mundo invisível, p. 201.)

Outras vezes, são fenómenos da natureza, insuficientemente explicados pelos cientistas, ou simplesmente fora de alcance de pessoas sem formação especializada: luminosidades, movimentos de massas de ar, variações térmicas..., os quais podem parecer fenómenos maravilhosos provocados por acção diabólica.


Objectividade e rigor

Mons. F. X. Maquart — renomado estudioso da matéria - compara o diagnóstico do exorcista ao diagnóstico médico.

O exorcista deve proceder com a mesma objectividade, o mesmo rigor que o exame do médico, de modo a não deixar fora do exame nenhuma das manifestações apresentadas pelo comportamento do paciente, evitando com isso deixar-se levar pela impressão, que pode ser enganosa. Esse exame crítico tem por finalidade eliminar alguma possível explicação natural observável na presumida manifestacção diabólica. Mons. Maquart explica que um certo número de sintomas da possessão são comuns com os de algumas doenças como a psicastenia, algumas formas de epilepsia, etc. Como fazer para discernir então entre um simples doente mental e um possesso pelo demónio? Entram em jogo os outros sinais da possessão, que não têm explicação natural: falar línguas estrangeiras não aprendidas, conhecer factos à distância, revelar ciência ou força física muito em desproporção com a idade, formação, etc. (Cf. F. X. Maquart. L´Exorciste devant les manifestations diaboliques, pp. 338-339.)

Essa posição exige, ao mesmo tempo, muita objectividade e bom senso, ao lado de muita fé. Pois, como é evidente, não se pode, sob pretexto de que o extranatural é uma excepção, negar em princípio toda a acção demoníaca, ou proceder de tal forma como se sempre se tivesse que encontrar, a qualquer preço, uma explicacção natural.


Perigos de um diagnóstico errado

Um diagnóstico errado não é isento de perigos, tanto de ordem moral e espiritual, como até mesmo física. Em primeiro lugar, a prática de exorcismos em simples doentes mentais, sem que estes, obviamente, experimentem qualquer melhora, pode conduzir ao descrédito em relação aos mesmos exorcismo e às coisas sagradas de modo geral. Pode ainda oferecer argumentos aos cépticos, que se aproveitarão para tachar a prática dos exorcismos como puramente supersticiosa. Além do mais, a prática dos exorcismos solenes representa para o exorcista um desgaste muito grande, o qual seria infrutifero em caso de erro de diagnóstico. Por fim, o exorcizar doentes mentais oferece o perigo de agravar os seus males, seja pela grande tensão e esforço mental e até físico que o exorcismo comporta, seja pelo carácter impressionante deste.
É o que afirma Mons. Maquart, experimentado demonólogo francês:  “Não seria sem inconvenientes graves exorcizar, sob simples aparências de possessão, doentes mentais. Em vez de os curar, o exorcismo teria o risco de agravar seu mal”. (Mgr F. X. Maquart, L ‘Exorciste devam les manjfestations diaboliques, p. 328.)

O mesmo assegura Dom Gustavo Waffelaert (Bispo de Bruges): "Há inconveniente real em exorcizar uma pessoa não possessa. Por ela, antes de tudo; pois o exorcismo, pela forte impressão que produz, pode afectar desfavoravelmente um sistema nervoso já perturbado e acabar de o arruinar; ele é também um poderoso meio de sugestão e arrisca desenvolver, num indivíduo fraco, hábitos mórbidos. Além de que, não se tem o direito de empregar, sem motivo grave, as orações sagradas do Ritual: é preciso que elas tenham um objecto. Dessa forma, a Igreja, para pemitir o exorcismo, requer a prudência e um julgamento moralmente certo ou ao menos provável da possessão”. (Mgr G. 3. Waffelaert, Possession Diabolique. col. 55.)

Na realidade, certas manifestações, à primeira vista patológicas, podem esconder a acção do Maligno. Por isso o médico católico não deve excluir sem mais a possibilidade dessa acção, conforme observa Mons. Catherinet: “O médico que quiser manter-se um homem completo, sobretudo se ele possuir as luzes da fé, não excluirá, a priori, a presença do demónio, podendo, em certos casos, suspeitar, por trás da doença, a presença e a acção de alguma força oculta (cujo estudo ele pedirá ao filósofo ou ao teólogo, os quais se guiam segundo seus próprios métodos). (Mgr F. M. Catherinet. Les Demoniaques dons l Évangile, pp. 324-32.)


Critérios seguros

A Igreja nunca negou essa dificuldade de diagnóstico da possessão; ao contrário, sempre foi muito cautelosa no pronunciar-se sobre os casos concretos, recomendando que na avaliação de cada um deles se examine com muito cuidado se o fenómeno pode ter uma origem natural. Só depois de diligente e acurado exame, e de descartadas todas as possibilidades de explicação natural, é que a Igreja autoriza a proceder aos exorcismos solenes sobre os possessos. Para garantir tal rigor de procedimento, a Igreja estabeleceu que esses exorcismos só podem ser praticados por sacerdotes devidamente autorizados pelo Ordinário do lugar para cada caso concreto; bispo não pode dar essa autorização senão a um padre de conhecida ciência, prudência, piedade e integridade de vida. (Cf. Código de Direita Canônico, canon 1172 § § 1 e 2.)

Dom Louis de Cooman, antigo Vigário Apostólico no Vietname ( ele próprio exorcista num caso famoso de possessão colectiva), dá o único critério que considera seguro para se determinar se há ou não possessão: “Para estabelecer a realidade de uma possessão, um único método é válido: provar a presença dos sinais clássicos indicados pela Igreja no Ritual Romano” (Mgr Louis de Cooman, Le Diable au Couvent, p. 12.)

O Ritual Romano (que data do século XVI) estabeleceu, para orientar exorcistas, os seguintes indícios por parte do suposto possesso:
 
(Fonte: “Anjos e Demónios - A Luta Contra o Poder das Trevas”, Gustavo Antônio Solímeo - Luiz Sérgio Solímeo)

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