Possessão diabólica: o diagnóstico católico
"Para estabelecer a
realidade
de uma possessão, um único
método
é válido: provar a presença
dos sinais
indicados no Ritual Romano”.
(Dom Louis de Cooman,
Bispo-missionário e
exorcista)
Estados patológicos e
possessão diabólica;
Problema complexo
Um dos problemas mais
complexos colocados pela acção diabólica extraordinária sobre o homem é o seu
diagnóstico. A questão consiste em saber quando estamos realmente em presença
de uma acção preternatural (isto é, provocada por Anjos ou demónios) ou diante
meras manifestações de morbidez, ou de outro gênero, por certo incomuns, mas
que não escapam ao ambito dos fenómenos naturais da alçada da Medicina e outras
ciências.
Nem sempre é fácil distinguir
entre as infestações e possessões demoníacas e certos fenómenos de natureza
mórbida, pois é sabido que inúmeros distúrbios patológicos, especialmente de
carácter neuro-psiquiátrico, provocam estados de extrema agitação, duplicam as
forças físicas, provocam fobias em relação às coisas sacras, etc. Em resumo,
fazem o pobre doente parecer um possesso.
É o que faz notar o Cardeal
Alexis Henri Marie Lépicier, O.SM.:
Sabemos que em algumas
pessoas a imaginacção, estando fora do normal, pode ultrapassar os seus
naturais limites e ser a origem de manifestações estranhas que, à primeira
vista, apresentam uma certa afinidade com ocorrências preternaturais [isto é,
produzidas por Anjos ou demónios]. ... Todos nós sabemos quantas perturbações
pode causar uma doença nervosa em certas criaturas, como, por exemplo, nas que
sofrem de esquisofrenia. Há, de facto, nas acções destes indivíduos muitas
coisas que causam admiração. ... Mas é principalmente nos períodos de paroxismo
que a histeria está mais apta a exibir muitos e curiosos fenómenos, o principal
dos quais é a alucinacção.
“Toda gente vê, portanto, a
necessidade imperiosa de estabelecer a distinção entre estes fenómenos e os que
são devidos a causas preternaturais” (Card. A. Lepicier, O Mundo invisível, p.
201.)
Outras vezes, são fenómenos
da natureza, insuficientemente explicados pelos cientistas, ou simplesmente
fora de alcance de pessoas sem formação especializada: luminosidades,
movimentos de massas de ar, variações térmicas..., os quais podem parecer
fenómenos maravilhosos provocados por acção diabólica.
Objectividade e rigor
Mons. F. X. Maquart —
renomado estudioso da matéria - compara o diagnóstico do exorcista ao
diagnóstico médico.
O exorcista deve proceder com
a mesma objectividade, o mesmo rigor que o exame do médico, de modo a não
deixar fora do exame nenhuma das manifestações apresentadas pelo comportamento
do paciente, evitando com isso deixar-se levar pela impressão, que pode ser
enganosa. Esse exame crítico tem por finalidade eliminar alguma possível
explicação natural observável na presumida manifestacção diabólica. Mons.
Maquart explica que um certo número de sintomas da possessão são comuns com os
de algumas doenças como a psicastenia, algumas formas de epilepsia, etc. Como
fazer para discernir então entre um simples doente mental e um possesso pelo
demónio? Entram em jogo os outros sinais da possessão, que não têm explicação
natural: falar línguas estrangeiras não aprendidas, conhecer factos à
distância, revelar ciência ou força física muito em desproporção com a idade,
formação, etc. (Cf. F. X. Maquart. L´Exorciste devant les manifestations
diaboliques, pp. 338-339.)
Essa posição exige, ao mesmo
tempo, muita objectividade e bom senso, ao lado de muita fé. Pois, como é
evidente, não se pode, sob pretexto de que o extranatural é uma excepção, negar
em princípio toda a acção demoníaca, ou proceder de tal forma como se sempre se
tivesse que encontrar, a qualquer preço, uma explicacção natural.
Perigos de um diagnóstico
errado
Um diagnóstico errado não é
isento de perigos, tanto de ordem moral e espiritual, como até mesmo física. Em
primeiro lugar, a prática de exorcismos em simples doentes mentais, sem que
estes, obviamente, experimentem qualquer melhora, pode conduzir ao descrédito
em relação aos mesmos exorcismo e às coisas sagradas de modo geral. Pode ainda
oferecer argumentos aos cépticos, que se aproveitarão para tachar a prática dos
exorcismos como puramente supersticiosa. Além do mais, a prática dos exorcismos
solenes representa para o exorcista um desgaste muito grande, o qual seria
infrutifero em caso de erro de diagnóstico. Por fim, o exorcizar doentes mentais
oferece o perigo de agravar os seus males, seja pela grande tensão e esforço
mental e até físico que o exorcismo comporta, seja pelo carácter impressionante
deste.
É o que afirma Mons. Maquart,
experimentado demonólogo francês: “Não
seria sem inconvenientes graves exorcizar, sob simples aparências de possessão,
doentes mentais. Em vez de os curar, o exorcismo teria o risco de agravar seu
mal”. (Mgr F. X. Maquart, L ‘Exorciste devam les manjfestations diaboliques, p.
328.)
O mesmo assegura Dom Gustavo
Waffelaert (Bispo de Bruges): "Há inconveniente real em exorcizar uma
pessoa não possessa. Por ela, antes de tudo; pois o exorcismo, pela forte
impressão que produz, pode afectar desfavoravelmente um sistema nervoso já
perturbado e acabar de o arruinar; ele é também um poderoso meio de sugestão e
arrisca desenvolver, num indivíduo fraco, hábitos mórbidos. Além de que, não se
tem o direito de empregar, sem motivo grave, as orações sagradas do Ritual: é
preciso que elas tenham um objecto. Dessa forma, a Igreja, para pemitir o
exorcismo, requer a prudência e um julgamento moralmente certo ou ao menos
provável da possessão”. (Mgr G. 3. Waffelaert, Possession Diabolique. col. 55.)
Na realidade, certas
manifestações, à primeira vista patológicas, podem esconder a acção do Maligno.
Por isso o médico católico não deve excluir sem mais a possibilidade dessa
acção, conforme observa Mons. Catherinet: “O médico que quiser manter-se um
homem completo, sobretudo se ele possuir as luzes da fé, não excluirá, a
priori, a presença do demónio, podendo, em certos casos, suspeitar, por trás da
doença, a presença e a acção de alguma força oculta (cujo estudo ele pedirá ao
filósofo ou ao teólogo, os quais se guiam segundo seus próprios métodos). (Mgr F. M.
Catherinet. Les Demoniaques dons l Évangile, pp. 324-32.)
Critérios seguros
A Igreja nunca negou essa
dificuldade de diagnóstico da possessão; ao contrário, sempre foi muito
cautelosa no pronunciar-se sobre os casos concretos, recomendando que na
avaliação de cada um deles se examine com muito cuidado se o fenómeno pode ter
uma origem natural. Só depois de diligente e acurado exame, e de descartadas
todas as possibilidades de explicação natural, é que a Igreja autoriza a
proceder aos exorcismos solenes sobre os possessos. Para garantir tal rigor de
procedimento, a Igreja estabeleceu que esses exorcismos só podem ser praticados
por sacerdotes devidamente autorizados pelo Ordinário do lugar para cada caso
concreto; bispo não pode dar essa autorização senão a um padre de conhecida ciência,
prudência, piedade e integridade de vida. (Cf. Código de Direita Canônico, canon
1172 § § 1 e 2.)
Dom Louis de Cooman, antigo
Vigário Apostólico no Vietname ( ele próprio exorcista num caso famoso de
possessão colectiva), dá o único critério que considera seguro para se
determinar se há ou não possessão: “Para estabelecer a realidade de uma
possessão, um único método é válido: provar a presença dos sinais clássicos
indicados pela Igreja no Ritual Romano” (Mgr Louis de Cooman, Le Diable au
Couvent, p. 12.)
O Ritual Romano (que data do
século XVI) estabeleceu, para orientar exorcistas, os seguintes indícios por
parte do suposto possesso:
(Fonte: “Anjos e
Demónios - A Luta Contra o Poder das Trevas”, Gustavo Antônio Solímeo - Luiz
Sérgio Solímeo)
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