19 de março de 2012

Exercícios espirituais


O que são exercícios espirituais?   



São exercícios espirituais todas as actividades que visam fortalecer a nossa capacidade dual de introspecção e de contacto com o mundo espiritual.

Os exercícios espirituais possibilitam desenvolver a capacidade de utilização de potencialidades superiores do cérebro.  Assim, um exercício espiritual é uma actividade que permite ao homem a introspecção profunda; é compenetração.  Algo que requer um vivo interesse, que requer total atenção e que faz com que a pessoa esteja completa e profundamente mergulhada naquela actividade.

Esta é uma definição geral, posto que foram criados exercícios com o propósito específico de promover desenvolvimento espiritual. É o caso, por exemplo, dos famosos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.
                        


Santo Inácio de Loyola foi o fundador da Companhia de Jesus (os Jesuítas) e os Exercícios eram aplicados para fortalecer a força de vontade e determinação dos membros da Ordem. Como Santo Inácio havia sido um grande militar ele criou os seus Exercícios aplicando-lhes toda a rigidez da disciplina militar. Por esta razão, eles são de difícil execução para quem não esteja habituado a manter padrões morais rígidos e que não tenha auto-disciplina. Se forem executados exactamente como prescritos e de forma constante, eles são passíveis de transformar a vida dos seus praticantes.
Acontece que, como está descrito logo na Introdução dos Exercícios, o livro não foi feito para quem vai praticar, e sim para orientar quem vai aplicar os Exercícios a outros, e esses orientadores são designados como Directores Espirituais. Mas isso não implica que uma pessoa sozinha não possa aplicar os Exercícios, pode fazê-lo mas terá grandes dificuldades. É preciso ter alguém habilitado para o orientar na sua prática correcta.

Basicamente, o livro consiste num conjunto de actividades, físicas e mentais, que serão executadas de forma altamente disciplinada por um período de cerca de 30 dias, podendo ser um pouco mais ou um pouco menos, de acordo com os critérios do Director Espiritual.  Estes exercícios espirituais não são acessíveis a qualquer pessoa, só alguém com determinação pode concluí-los, com ou sem o acompanhamento de um instrutor.



Existe também a disciplina espiritual estabelecida por São João da Cruz. Ele foi contemporâneo de Santo Inácio, mas a sua forma de expressão era a poesia. Ele escreveu belíssimos trabalhos como “Chama Viva de Amor” e “A Subida do Monte Carmelo”, mas o que nos interessa aqui é “A Noite Escura da Alma”.
Trata-se de uma extensa poesia mística onde é descrita, de forma poética e velada, a situação de uma alma em busca de Deus, os seus percalços, dificuldades e procedimentos para atingir o seu objectivo. É um trabalho tão importante que São João da Cruz tem o título de Doutor Místico da Igreja.

Mas como tudo o que ele descreve está escrito de forma velada, é preciso saber ler nas entrelinhas. Toda uma realidade espiritual está descrita de uma maneira que é preciso saber interpretar (usei o mesmo método para divulgar informações veladas nas minhas poesias iniciáticas). Por isso, também aqui, será preciso contar com a orientação de alguém que conheça a prática da Noite Escura da Alma. E se acontecer a pessoa pretender aplicar o método sozinha, será absolutamente imprescindível e obrigatório que primeiro tenha praticado os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, pois precisará de ter uma boa base neste tipo de estudo.  Pretender praticar a disciplina da Noite Escura sem orientação e sem ter praticado primeiro os Exercícios será uma completa perda de tempo.

Para se desenvolverem espiritualmente, há pessoas que meditam enquanto outras gostam de se concentrar ouvindo música. Outras fazem-no caminhando, algumas meditam profundamente enquanto trabalham, pintam, esculpem...  Eu, por exemplo, concentro-me muito quando estou a fazer e a decorar velas. É uma ocasião em que me interiorizo muito, trabalho na solução de problemas, aplico energia reforçando-me positivamente. Há diversos exercícios que podem e devem ser praticados ante um Altar, enquanto outros podem ser feitos em qualquer lugar.

Eu tenho e uso muito dois programas de computador que ajudam bastante, o Dazzle e o Hypno. O primeiro vai gerando figuras mandálicas aleatórias no ecrã do computador, de  maneira que as formas jamais se repetem - a meditação com Mandalas é muito forte. O outro é o Hypno, e consiste numa espiral que vai rodopiando no ecrã, o que causará ilusões de óptica que podemos explorar libertando-nos do mundo físico. Tem que ficar esclarecido que a mente precisa de ser treinada, exactamente como acontece com os músculos.
A mente humana é capaz de produzir efeitos que são prodígios e que podem parecer verdadeiros milagres, mas, nada mais são que a aplicação da vontade de uma mente e espírito treinados e desenvolvidos.

Ao mesmo tempo que nos fortalecem, os exercícios espirituais vão ajudando a mente a livrar-se das amarras limitantes, aquele pensamento de retroacção que diz que tal ou tal coisa não é possível. A mente devidamente treinada exige uma revisão da definição da palavra "impossível", e, por esta razão, há toda essa importância no que tange aos exercícios. De certa forma, pode dizer-se que é um alívio que a maioria das pessoas não tenha determinação para se  submeter ao rigor de tal treino. 

Se há uma situação Mestre-Discípulo, o treino com exercícios espirituais é muito proveitoso, quando bem dirigido e aplicado, mas é difícil dar esse tipo de orientação a estranhos ou a pessoas a respeito das quais temos pouca informação. O que acontece é que quando me pedem a prescrição de exercícios espirituais normalmente as pessoas esperam instruções grandiosas, destinadas a obter resultados fantásticos e imediatos. Na prática, não é assim.
Digamos que seria como um sedentário matricular-se num ginásio de musculação e não querer começar com pesos leves, indo directamente para as cargas pesadas e sérias dos avançados nesse tipo de treino físico. Em ambos os casos há graduações, há um passo-a-passo. Eu sempre fui radicalmente contra este fast-food espiritual que vende aos leigos a ideia de que podem saltar toda a teoria e exercícios elementares indo directamente para os superiores.

O cérebro é a chave e os exercícios visam activar as suas potencialidades. Sem os exercícios, o cérebro não é aproveitado da forma como poderia, a sua capacidade instalada é usada apenas em termos básicos, o que se pode traduzir pelo termo "desperdício".  
A prática da visualização criativa é altamente recomendada. A mente pode experimentar modificações físicas (irreais) se o subconsciente for convencido de que aquilo é um facto. Há barreiras, há uma coisa chamada "sistema de crenças" que vai estabelecer que tal coisa não é assim e por isso ela é rejeitada, mas se a mente subconsciente for convencida disso então as mudanças podem acontecer (desde que sejam razoáveis).

Só que o leigo normalmente incorre no erro clássico de querer contactar a mente subconsciente usando palavras. Mas como essa mente é absolutamente simbólica, ela desconhece a linguagem verbal e só comunica por símbolos.  Por exemplo, os sonhos são uma forma de comunicação da mente subconsciente com uma simbologia sobre a qual existem inúmeras interpretações. Para mim, cada um tem o seu próprio código de símbolos que derivam da sua essência pessoal e experiências quotidianas e espirituais.
Exactamente como um cavalo selvagem, a mente resiste a toda a tentativa de domá-la, e é muito comum que ela acabe por se impor em relação a quem estava a tentar modificar o seu status quo. 

Seguindo a linha de graduação, à qual já me referi, a evolução dos exercícios propicia até efeitos notáveis. Por exemplo, nas escalas superiores da meditação transcendental o indivíduo poderá até levitar porque a mente foi treinada o bastante para se impor à matéria à qual estava, até então, subordinada. Passa a haver então uma inversão de papéis. No Oriente pude testemunhar monges cainistas que permanecem dias em meditação transcendental, sem terem qualquer necessidade fisiológica. Claro que na nossa sociedade com todas as responsabilidades e deveres que temos, atingir estes níveis de desenvolvimento espiritual está fora de questão. Anos, décadas de dedicação a estas práticas de uma forma intensiva implicam abdicar da vida familiar, social e profissional.
                       
Na verdade, os limites estabelecidos serão apenas os que a própria pessoa admitir e tiver capacidade para assumir. A mente subconsciente não é analítica ao ponto de julgar se tal coisa é real ou não. Assim, desde que seja devidamente convencida, ela aceita qualquer instrução e aceita-a como real. O grande problema está no método para convencê-la. Só mesmo uma vontade sumamente forte pode impressionar a mente subconsciente que, conforme já expliquei, é simbólica.  Então é necessário que a comunicação usada se desenvolva através de símbolos. Para impor esses símbolos é necessária uma mente consciente muito treinada, e, é aí que se enquadram a maior parte dos exercícios espirituais.

Posso sugerir um exercício básico de visualização criativa que existe em muitas Ordens. É simples, mas com o tempo compreenderá o seu valor.

Primeiro verifique que nada o incomoda; desligue o telefone, certifique-se que o vestuário é confortável e de cor clara (neutra como branco ou beije), certifique-se que não tem frio nem fome… Comece por fazer um relaxamento com exercícios respiratórios. Pegue numa maçã e corte-a ao meio, com um corte horizontal. Pegue na parte de baixo e coloque-a no altar. Atrás da meia maçã deve estar uma vela acesa, de forma a que seja essa a única luz nesse lugar. Sente-se de forma confortável em frente ao altar, respire fundo algumas vezes.  Então, olhe para aquela metade da maçã, olhe-a atentamente. Comece a imaginar a outra metade dela, um pouco acima dessa metade inferior, e faça com que as metades se encaixem. Visualize que a maçã está completa. Use toda a sua força de visualização para "ver" a maçã completa. Este exercício pode ser feito várias vezes por dia, mas cada sessão deve durar no mínimo meia hora, nunca menos que isso. 

Ao fim de alguns dias, quando essa visualização já puder ser feita sem nenhuma dificuldade, comece a "alterar" a maçã: nessa nova etapa deve alterar-lhe a cor. Dominada esta segunda etapa, altere-lhe o formato, imagine que ela tem uma folha, e no último nível imagine a maçã completamente murcha. 
Creio que entendeu que em todas as sessões usará apenas a metade inferior de uma maçã fresca.  Esteja certo de que este é um óptimo exercício.

Use os seus exercícios para se conectar com os Anjos, seres energéticos que circulam entre todas as dimensões. Aprenda a interiorizar-se, a mergulhar em si mesmo, a conhecer-se. Cultive o espírito. Muitas pessoas prestam um culto devoto ao corpo mas esquecem-se do espírito, o que está errado. Os dois, corpo e espírito, são como as duas metades da maçã; um é real porque está a ser cultivado e é material, mas o outro é espiritual por ser imaterial. A mente deverá unir as partes para que reconstituam a Unidade do Ser. Procure em si o significado da frase: " O Todo não existe sem a Parte".


As bases de sustentação de uma vida com qualidade são, pela ordem que entender: 

  • Alimentação
  • Actividade física e actividade espiritual
  • Sono
  • Afectividade
  • Trabalho
  • Sexualidade
  • Lazer
Finalmente, os exercícios espirituais podem variar de acordo com os objectivos. Nas actividades físicas, podem ser vários os objectivos: beneficiar a saúde, perder de peso, fortalecer os músculos, gerir um condicionamento cardio-vascular, etc. O mesmo se dá nas actividades espirituais. O propósito pode ser a conversão de uma pessoa, encontrar uma cura física ou emocional, a libertação de uma influência maligna, a busca de uma orientação divina, a prosperidade espiritual, etc. Consoante o objectivo, variará o plano de exercícios espirituais.

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