5 de março de 2012

As perversas doutrinas e os limites do demónio


As perversas doutrinas e os limites do demónio


O demónio tem uma doutrina mentirosa, que se opõe à doutrina de Cristo.

Na sua introdução ao Tratado sobre os Anjos, de São Tomás de Aquino, comenta o Pe. Aureliano Martínez O.P.: “O demónio tem as suas doutrinas perversas, às quais o Apóstolo chama espírito do erro e ensinamentos do demónio (1 Tim 4, 1), com as quais como deus deste mundo terreno, cega a inteligência dos homens para que não brilhe nelas a luz do Evangelho (2 Cor 4, 4); doutrinas que propaga mediante falsos apóstolos e operários enganadores que se disfarçam de apóstolos de Cristo; e não é de espantar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz (2 Cor 11, 13-14), tentando os fiéis de incontinência (1 Cor 7, 5) e de ira (Ef 4, 27)”. (A Martínez O.P., Tratado de Los Angeles — Introducción, p. 511.)

Foi por essa razão que o Divino Salvador definiu o demónio como aquele "que não permaneceu na verdade; porque a verdade não está nele; quando ele diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44).  Por meio dessa acção de persuasão o demónio procura na tentação, não apenas induzir-nos a cometer este ou aquele pecado, mas afastar-nos completamente de Deus.


Limites à acção do demónio

Por mais poderoso que seja, com uma capacidade de acção superior à de qualquer ser da nossa dimensão, o demónio não é omnipotente nem superior aos emissários de Deus. Sendo mera criatura, ele tem as suas limitações, decorrentes de três factores: a sua própria natureza, a condição particular de cada demónio e a vontade permissiva de Deus.


Limites impostos pela sua própria natureza

Como todas as criaturas, o demónio está limitado na sua actuação pela sua própria natureza: por mais elevado que seja o seu poder, este não pode ultrapassar os limites da sua natureza criada. Ele é um ser finito, contingente. Não se deve pois de forma alguma julgar que ele é capaz de saber tudo (omnisciência), de poder tudo (omnipotência) e estar em qualquer lugar (omnipresença): esses atributos são exclusivos de Deus. A sua inteligência, embora se tenha mantido intacta, está privada de todo o auxílio sobrenatural e divino. Os demónios perderam, com o pecado, todas as formas de conhecimento sobrenatural. Enquanto os Anjos bons vêem em Deus o estado de uma alma (se ela está na graça divina ou em negatividade), os demónios só podem fazer conjecturas a esse respeito. O mesmo se deve dizer quanto a certos acontecimentos futuros que Deus revela aos Anjos.

Pela sua natureza, nem os Anjos bons nem os demónios podem conhecer o futuro livre ou o futuro contingente, isto é, o futuro que depende da vontade divina e o que está relacionado com o livre arbítrio humano. Apenas Deus pode revelar o futuro aos seus Anjos.

Outro limite natural à acção do demónio é, como vimos, a sua impossibilidade de agir directamente sobre a inteligência e a vontade humanas; ele tem de usar meios indirectos: a sensibilidade, a imaginação, as paixões e sobretudo a persuasão.


Limites devidos à condição particular de cada demónio

Outro limite à actuação demoníaca vem da condição diversa de cada demónio. Assim como existem desigualdades entre os homens, também entre os Anjos e os demónios não há dois iguais.  Por isso, nem todos os demónios têm o mesmo poder.

Outro factor de limitação é a posição relativa de cada demónio na escala dos Anjos caídos, e as eventuais ordens e proibições que existam entre eles.


Limites impostos por Deus

O demónio só pode agir em detrimento do homem com a permissão de Deus.

Ensina o Cardeal Lepicier: “É preciso que nos lembremos sempre de que, por muito grande que seja o poder do demónio, tem limites que lhe foram sabiamente determinados pelo Todo-Poderoso. Ele pode, sem dúvida, fazer-nos mal, mas não além daquilo que lhe é permitido, e bem conhece que o seu poder não pode durar muito. Pode ser que o conhecimento da curta duração do seu reino contribua para que redobre a sua actividade nos tempos que vão correndo; mas todos os seus esforços obedecem aos impenetráveis desígnios da Providência que só permite que a sua influência seja exercida até certo grau, de forma a que nos possamos colocar debaixo da protecção de Deus e ganhar, pelos nossos méritos, a vitória final e a coroa da imortal glória que nos espera no Céu"
(Cardeal A. Lépicier, O.S.M., O Mundo invisível, p.242.)

No livro de Jó, no qual é nomeado pela primeira vez nas Escrituras, Satanás aparece como agente do mal, porém absolutamente subordinado a Deus. Embora tenha inveja do justo Jó e queira pôr sua virtude à prova, por meio da infelicidade, Satanás não pode agir senão com a autorização divina. Ele tem necessidade de uma permissão, ou até mesmo de uma delegação do Senhor. A sua acção é estritamente limitada à vontade de Deus, que permite, primeiro atacar o seu servidor exclusivamente nos seus bens e não na sua pessoa; depois na sua pessoa, mantendo entretanto sua vida (Jó 1, 6-12; 2, 1-7).

São Paulo tranquiliza-nos: "Deus é fiel, não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças; antes, com a tentação, vos dará as forças necessárias para sair dela e para suportá-la" (1 Cor 10,13).

Por que é que Deus permite que o demónio tente o homem e que o prejudique, muitas vezes e de tantos modos? Como fica patente em tantas passagens das Escrituras e ensinamentos do Magistério eclesiástico, essa permissão divina tem como finalidade enriquecer a experiência de vida do homem por meio de provações, puni-lo por alguma falta grave, servir de ocasião para que se manifeste o poder divino de um modo visível, como no caso das limpezas e dos exorcismos de possessos.

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