As perversas doutrinas e os limites do demónio
O demónio tem uma doutrina
mentirosa, que se opõe à doutrina de Cristo.
Na sua introdução ao Tratado
sobre os Anjos, de São Tomás de Aquino, comenta o Pe. Aureliano Martínez O.P.:
“O demónio tem as suas doutrinas perversas, às quais o Apóstolo chama espírito
do erro e ensinamentos do demónio (1 Tim 4, 1), com as quais como deus deste
mundo terreno, cega a inteligência dos homens para que não brilhe nelas a luz
do Evangelho (2 Cor 4, 4); doutrinas que propaga mediante falsos apóstolos e
operários enganadores que se disfarçam de apóstolos de Cristo; e não é de
espantar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz (2 Cor 11, 13-14),
tentando os fiéis de incontinência (1 Cor 7, 5) e de ira (Ef 4, 27)”. (A
Martínez O.P., Tratado de Los Angeles — Introducción, p. 511.)
Foi por essa razão que o
Divino Salvador definiu o demónio como aquele "que não permaneceu na verdade;
porque a verdade não está nele; quando ele diz a mentira, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). Por meio dessa acção de persuasão o demónio
procura na tentação, não apenas induzir-nos a cometer este ou aquele pecado,
mas afastar-nos completamente de Deus.
Limites à acção do demónio
Por mais poderoso que seja,
com uma capacidade de acção superior à de qualquer ser da nossa dimensão, o demónio
não é omnipotente nem superior aos emissários de Deus. Sendo mera criatura, ele tem as suas limitações, decorrentes
de três factores: a sua própria natureza, a condição particular de cada demónio
e a vontade permissiva de Deus.
Limites impostos pela sua própria natureza
Como todas as criaturas, o
demónio está limitado na sua actuação pela sua própria natureza: por mais
elevado que seja o seu poder, este não pode ultrapassar os limites da sua
natureza criada. Ele é um ser finito, contingente. Não se deve pois de forma
alguma julgar que ele é capaz de saber tudo (omnisciência), de poder tudo
(omnipotência) e estar em qualquer lugar (omnipresença): esses atributos são
exclusivos de Deus. A sua inteligência, embora se tenha mantido intacta, está
privada de todo o auxílio sobrenatural e divino. Os demónios perderam, com o pecado,
todas as formas de conhecimento sobrenatural. Enquanto os Anjos bons vêem em
Deus o estado de uma alma (se ela está na graça divina ou em negatividade), os
demónios só podem fazer conjecturas a esse respeito. O mesmo se deve dizer
quanto a certos acontecimentos futuros que Deus revela aos Anjos.
Pela sua natureza, nem os
Anjos bons nem os demónios podem conhecer o futuro livre ou o futuro
contingente, isto é, o futuro que depende da vontade divina e o que está relacionado com o livre arbítrio
humano. Apenas Deus pode revelar o futuro aos seus Anjos.
Outro limite natural à acção do
demónio é, como vimos, a sua impossibilidade de agir directamente sobre a
inteligência e a vontade humanas; ele tem de usar meios indirectos: a
sensibilidade, a imaginação, as paixões e sobretudo a persuasão.
Limites devidos à condição particular de cada demónio
Outro limite à actuação
demoníaca vem da condição diversa de cada demónio. Assim como existem
desigualdades entre os homens, também entre os Anjos e os demónios não há dois
iguais. Por isso, nem todos os demónios
têm o mesmo poder.
Outro factor de limitação é a
posição relativa de cada demónio na escala dos Anjos caídos, e as eventuais
ordens e proibições que existam entre eles.
Limites impostos por Deus
O demónio só pode agir em
detrimento do homem com a permissão de Deus.
Ensina o Cardeal Lepicier: “É
preciso que nos lembremos sempre de que, por muito grande que seja o poder do
demónio, tem limites que lhe foram sabiamente determinados pelo Todo-Poderoso.
Ele pode, sem dúvida, fazer-nos mal, mas não além daquilo que lhe é permitido,
e bem conhece que o seu poder não pode durar muito. Pode ser que o conhecimento
da curta duração do seu reino contribua para que redobre a sua actividade nos
tempos que vão correndo; mas todos os seus esforços obedecem aos impenetráveis
desígnios da Providência que só permite que a sua influência seja exercida até
certo grau, de forma a que nos possamos colocar debaixo da protecção de Deus e
ganhar, pelos nossos méritos, a vitória final e a coroa da imortal glória que
nos espera no Céu"
(Cardeal A. Lépicier, O.S.M.,
O Mundo invisível, p.242.)
No livro de Jó, no qual é
nomeado pela primeira vez nas Escrituras, Satanás aparece como agente do mal,
porém absolutamente subordinado a Deus. Embora tenha inveja do justo Jó e
queira pôr sua virtude à prova, por meio da infelicidade, Satanás não pode agir
senão com a autorização divina. Ele tem necessidade de uma permissão, ou até
mesmo de uma delegação do Senhor. A sua acção é estritamente limitada à vontade
de Deus, que permite, primeiro atacar o seu servidor exclusivamente nos seus
bens e não na sua pessoa; depois na sua pessoa, mantendo entretanto sua vida
(Jó 1, 6-12; 2, 1-7).
São Paulo tranquiliza-nos:
"Deus é fiel, não permitirá que sejais tentados além do que podem as
vossas forças; antes, com a tentação, vos dará as forças necessárias para sair
dela e para suportá-la" (1 Cor 10,13).
Por que é que Deus permite que o
demónio tente o homem e que o prejudique, muitas vezes e de tantos
modos? Como fica patente em tantas passagens das Escrituras e ensinamentos do
Magistério eclesiástico, essa permissão divina tem como finalidade enriquecer a experiência de vida do
homem por meio de provações, puni-lo por alguma falta grave, servir de ocasião
para que se manifeste o poder divino de um modo visível, como no caso das limpezas e dos
exorcismos de possessos.
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