5 de março de 2012

Poder dos demónios sobre a matéria


Poder dos demónios sobre a matéria


Já vimos anteriormente como a presença dos Anjos num lugar não se dá fisicamente (contacto físico), pois são seres incorpóreos, e sim por meio da sua actuação (contacto operativo): os Anjos estão onde actuam. Em virtude da sua natureza espiritual, eles podem exercer a sua actividade tanto fora dos corpos como no interior deles, conforme observa São Boaventura: “Os demónios, em razão da sua subtileza e espiritualidade, podem penetrar em qualquer corpo e aí permanecer sem o menor obstáculo e impedimento”. (In II Sent., Dist. 8, p. 2, a. um., q. 1, apud Mons. C. Balducci, Gli Indemoniati, p.12.)

De um modo directo e imediato os demónios podem produzir na matéria apenas movimentos locais, ou extrínsecos, transferindo uma coisa de um lugar para outro, sem entretanto alterar a natureza ou substância dessa coisa. De modo indirecto, através desses movimentos locais, eles podem agir sobre a própria substância da matéria, ao modificar a posição ou a quantidade dos elementos constitutivos da mesma.

Caso Deus o permitisse, os demónios, pela sua natureza angélica, poderiam causar toda  a espécie de transtornos físicos. O Cardeal Lepicier afirma que se pode dizer que praticamente não há fenómeno no mundo que não possa ser realizado, de um modo ou outro, pelos Anjos; logo, também pelos demónios. (Cardeal A. Lepicier, O Mundo invisível, pp. 74.75.) E não raro o fazem, provocando tempestades, cataclismos, incêndios e outros desastres como também aparições fantasmagóricas, ruídos infernais e perturbações de toda ordem.


Poder dos demónios sobre o homem

Em relação ao homem, os demónios só podem operar de modo directo e imediato sobre aquilo que nele é matéria, ou está em necessária dependência dela. Podem agir nas funções da vida vegetativa, enquanto ligadas à matéria, e sobre a vida sensitiva, porque esta depende de órgãos corporais.

No que se refere às funções próprias da vida intelectual, os demónios só podem chegar a elas indirectamente, quer dizer, actuando sobre a parte corpórea e sobre a vida sensitiva, das quais a alma deve servir-se para desenvolver as suas actividades espirituais. Noutros termos, os demónios podem agir directamente sobre a parte corpórea do homem, mas apenas indirectamente sobre sua inteligência e a sua vontade.

Conforme ensina São Tomás, (Suma Teológico. 1-2, q. 80, a. 1-3.) o entendimento, por inclinação própria, só se move quando algo o ilumina, visando o conhecimento da verdade. Ora, os demónios não querem conduzir o entendimento à verdade, mas, pelo contrário, denegri-lo como um meio de levar o homem ao pecado. Por isso, eles não conseguem mover directamente a inteligência do homem, e procuram então influir sobre ela indirectamente, através de sua acção sobre a imaginação, a memória e a sensibilidade.

Os demónios não podem tampouco alterar directamente a vontade humana, pois isto só o próprio homem ou Deus podem fazer. Mesmo que o Maligno, por permissão divina, se assenhore do corpo do homem e obscureça a sua mente — como se dá na possessão — ele não pode obrigá-lo a pecar. A vontade não participaria dos maus actos assim realizados, os quais em consequência seriam erros apenas materiais. Para mover a vontade do homem, os demónios têm que convencê-lo, persuadi-lo a praticar uma acção negativa, ainda que sob a aparência de uma boa.


A acção persuasiva do demónio

"O demónio não força; ele propõe, sugere, persuade, alicia”

O demónio não tem o poder de obrigar os homens a fazer ou a deixarem de fazer algo; por isso procura persuadi-los para que se deixem conduzir pelo seu mal.

"Ele não os força: ele propõe, sugere, persuade, alicia” escreve o Pe. J. de Tonquédec S.J., exorcista e demonólogo francês. E acrescenta: “No Éden, ele deu a Eva razões para ela transgredir a ordem divina (Gen 3, 4-5, 13); no deserto, tentou Nosso Senhor pela atracção de uma dominação universal (Mt 4, 26-27)”. (J. de Tonquédec S.J., Quelques aspects de l´ation de Satan en ce monde, p. 495.)

São Tomás também se refere a essa obra de persuasão do demónio, explicando que a vontade humana só se move internamente por acção do próprio homem ou de Deus; externamente ela pode ser solicitada pelo objecto que, entretanto, não força o homem a escolher o que não quer. (Suma Teológico, 1-2, q. 80, a. 1.)

O Pe. Cândido Lumbreras O.P., comenta assim essa passagem do Doutor Angélico: “Que influência pode exercer o demónio nos pecados dos homens? ... O demónio pode oferecer aos sentidos o seu objecto, falar à razão, seja interiormente, seja exteriormente; alterar os humores e produzir imagens perigosas, excitar enfim as paixões que podem mover a vontade e assenhorar-se do entendimento.” (C. Lumbreras O.P., Tratado de los vicios y los pecados — Introducción. p. 766.)

 Em comentário a outra passagem de São Tomás, explica Pe. Jesus Valbuena O.P.:

“Que os Anjos possam iluminar e de facto iluminem o entendimento humano, é uma verdade que se atesta por uma multidão lugares nas Sagradas Escrituras ... Também os Anjos maus são capazes de produzir, com a sua virtude natural, falsas iluminações no entendimento dos homens, conforme nos admoesta São Paulo para que estejamos alerta ´pois o próprio Satanás se disfarça em luz’ (2 Cor 11, 14).

“Afirma São Tomás que nos sentidos do homem, sejam internos ou externos, os Anjos podem influir e agir a partir de fora e a partir de dentro dos mesmos, quer dizer, extrínseca e intrinsecamente. Mas, em relação ao entendimento e à vontade humanas, só os podem mover e influir indirecta e exteriormente.

Nos casos de Eva e de Nosso Senhor, o demónio “apresentou as suas razões” tomando uma forma corpórea, produzindo sons e articulando as palavras oralmente; em qualquer dos casos, entretanto, o demónio, para persuadir o homem a pecar, conjuga na sua acção a sensibilidade, a memória e a imaginação.

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