5 de março de 2012

A luta contra o poder das trevas


A luta contra o poder das trevas


Depois de termos estudado a actividade demoníaca ordinária (a tentação) e a actividade extraordinária (infestação pessoal e local, possessão), de ter visto os critérios para o diagnóstico dessas manifestações, parece-nos indispensável dar aqui os meios que temos para fazer face às investidas diabólicas. O homem não está desarmado diante do poder das trevas. Ele dispõe de armas sobrenaturais e também naturais com que enfrentar as investidas diabólicas. Primeiramente, cabe ver de que meios preventivos dispomos; ou seja, como fazer para evitar, tanto quanto está em nós, as investidas do demónio. A seguir, quais os meios terapeuticos à nossa disposição, para nos curarmos, caso nos ocorra sermos atingidos por tais investidas. Esses meios podem-se chamar remédios, porque a acção demoníaca provoca em nós distúrbios que não são menos incomodos que as enfermidades do corpo. E assim como as doenças do corpo podem conduzir à morte física, a actuação do demónio visa produzir a morte da alma.


Remédios gerais, preventivos e libertadores

“E não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal”.
(Mt 6, 13)


Os autores recomendam, em primeiro lugar, os remédios gerais oferecidos pela Igreja:
- Práticas religiosas e devocionais
- Oração e penitência; sacramentos e sacramentais

Antes de qualquer outro, vem o grande remédio indicado pelo próprio Salvador, como o único capaz de vencer uma certa casta de demónios — a oração e o jejum, acompanhados pela aquela fé que move as montanhas (cf. Mt 17, 14-20).

A oração por excelência é aquela que o próprio Cristo ensinou quando os seus discípulos Lhe pediram: “Senhor, ensina-nos a rezar" — o Pai-Nosso (Lc 11, 1-4; Mt 6,9-13).

Nas duas últimas petições, rogamos ao Pai celeste que nos dê forças para resistir aos assédios da carne, do mundo e do demónio: “Não nos deixeis cair em tentação"; e que nos livre do mal, do supremo mal — o pecado e o seu instigador — o demónio: livrai-nos do mal” ou “livrai-nos do Maligno”.* A liturgia em várias cerimonias recita o Pai-Nosso, todo ou, apenas essas duas petições. É recitado por inteiro nos exorcismos solenes sobre possessos.

* Os especialistas explicam que, no texto grego dos Evangelhos, podemos entender essa petição tanto no sentido de sermos livres do mal, como do autor do mal, o Maligno, o demónio. “De facto, as duas interpretações não se excluem — comenta o P. Jean Carmignac - uma vez que o fim do demónio é o pecado e o pecado tem o demónio por instigador.  Contudo, segundo as directrizes de Cristo, devemos pedir o afastamento não somente do pecado, mas sobretudo do demónio” (Abbé Jean Carmignac, Á l´écoute du Notre Père, Éditions de Paris, 1971, p. 87; no mesmo sentido, J. de Tonquédec S.J., Quelques aspects de l´action de Satan en ce monde, p. 496, nota 5).
Depois vem a Ave-Maria — louvor da Mãe de Jesus, a qual, por sua Imaculada Concepção, esmaga para sempre a cabeça da antiga serpente.  É igualmente recitada nos exorcismos sobre possessos.

Por fim, o Credo — Creio em Deus Pai — solene profissão de fé católica, que infunde especial terror ao demónio; também é recitado nos exorcismos sobre possessos.

Junto com a oração e a penitência, é indispensável a frequência aos sacramentos, sobretudo da Confissão e da Comunhão; assim como o uso de sacramentais (como a água-benta e o Agnus Dei) e de objectos bentos (velas, escapulários, imagens, cruzes, medalhas - particularmente a Medalha Milagrosa e a medalha-cruz exorcistica de São Bento).

Devemos lembrar também o poder do Sinal da Cruz para afugentar o demónio: o símbolo da nossa Redenção, que destruiu o seu reino, causa-lhe particular terror; o demónio foge... como o diabo da cruz...— segundo o dito popular.

Além das quatro cruzes que se fazem no Sinal da Cruz, as próprias palavras pronunciadas são de natureza exorcística deprecatória: "Pelo sinal (+) da Santa Cruz, livrai-nos Deus (+) Nosso Senhor, dos nossos (+) inimigos. Em nome do Pai, e do Filho, (+) e do Espírito Santo. Amém."

Por isso devemos fazer o Sinal da Cruz nas mais diversas ocasiões: ao levantar e ao deitar, antes das refeições, ao sair de casa, nas viagens, antes de tomar alguma resolução…

A água-benta é feita expressamente para afastar dos lugares e das pessoas sobre as quais é aspergida “todo o poder do inimigo e o próprio inimigo com seus Anjos apóstatas” conforme se lê no Ritual Romano. (Rituale Romanum, tit. VIII, c. 2.). São numerosas no mesmo Ritual as bênçãos, orações e cerimônias com o mesmo fim, aplicadas a objectos e lugares diversos, as quais contém a mesma fórmula deprecatória contra Satanás.


A confissão: mais forte que o exorcismo

Convém insistir na confissão frequente pelo empenho dos teólogos e dos exorcistas quanto à sua eficácia - apesar das dificuldades que hoje se apresentam para essa prática sacramental.

O exorcista da arquidiocese de Veneza, Pe. Pellegrino Emetti, da Ordem de São Bento, enfatiza: “O sacramento da Confissão, nós o sabemos, é a segunda tábua de salvação depois do Baptismo. ... A experiência ensina que dificilmente Satanás consegue penetrar numa alma que se lava frequentemente com o Sangue preciosíssirno de Jesus. Este sangue torna-se a verdadeira couraça contra a qual Satanás pode forçar, porém não consegue abrir nenhuma brecha. A frequência assídua e constante desse sacramento é necessária, seja para quem faz o exorcismo, seja para quem dele tem necessidade. Estou certo, por uma longa experiência, que o sacerdote deveria lavar a sua alma no sangue de Jesus até mesmo diariamente, se quiser lutar juntamente com Jesus contra Satanás, e sair vitorioso. É verdadeiramente este o sacramento do qual Satanás tem medo ... Cristo venceu Satanás com o próprio Sangue. E o Apocalipse explicitamente nos diz: "Estes são aqueles que venceram Satanás com o Sangue do Cordeiro “. (D. P. Ernetti O.S.B., La Catechesi di Satana, p. 251.)
É igualmente taxativo o Pe. Gabriele Amorth, exorcista da diocese de Roma: “Muitas vezes escrevi que se causa muito mais raiva ao demónio confessando-se, ou seja, arrancando do demónio a alma, do que  exorcizando e arrancando-lhe assim o corpo. ... A confissão é mais forte que o exorcismo“. (G. Amorth, Un esorcista racconta, pp. 63 e 86.)


Desprezo soberano ao demónio

A esses meios, os santos e autores espirituais acrescentam o desprezo soberano ao demónio.

Ouçamos Santa Teresa: “É muito frequente que esses espíritos malditos me atormentem; mas eles me inspiram muito pouco medo, porque, eu o vejo bem, eles não podem sequer mexer-se sem a permissão de Deus... Que se saiba bem: todas as vezes que nós desprezamos os demónios, eles perdem a sua força e a alma adquire sobre eles mais domínio... Verem-se desprezados por seres mais fracos, é, com efeito,  uma rude humilhacção para esses soberbos. Ora, apoiados humildemente em Deus, nós temos o direito e o dever de os desprezar: Se Deus está connosco, quem será contra nós? Eles podem latir, mas não nos podem morder, senão no caso em que — seja por imprudência, seja por orgulho — nos coloquemos em seu poder”. (Apud Ad.  Tanquerey - Jean Gautier, Abrégé de Théologie Ascétique et Mystique, p. 112.)

É evidente que não devemos confundir esse desprezo ao demónio com a vã pretensão de que, por nós mesmos, temos algum poder sobre os Anjos caídos. Por natureza não temos nenhum poder sobre eles; pelo contrário, pela sua natureza superior, eles é que podem ter domínio sobre nós. A base desse desprezo salutar aos inimigos infernais tem de ser a mais perfeita humildade e a confiança verdadeira e não temerária no Criador, em Jesus e na Santíssima Virgem. Tomados esses cuidados, convém fazer o que a grande Santa Teresa indica com tanta propriedade.

Sobretudo, devemo-nos esforçar por ter uma vida de piedade séria e autêntica, sem superstições nem sentimentalismos. Sem julgar os nossos semelhantes. Isto manterá o demónio distante de nós, o quanto é possível.


Fortalecimento da inteligência e da vontade

Um grande meio preventivo na luta contra o demónio é o fortalecimento da nossa inteligência e da nossa vontade. Com efeito, a principal defesa de ordem natural que temos contra as investidas dos espíritos malignos é a inviolabilidade dessas faculdades superiores, as quais nos assemelham a Deus. Na medida em que permitimos o seu enfraquecimento, estamo-nos a colocar à mercê de Satanás e dos seus seguidores. O demónio tem lucrado tanto com o enlouquecimento geral a que assistimos nos nossos dias, que é caso de perguntar se não é ele quem o está a provocar.
Sem o consentimento da vontade humana, nenhuma acção externa — quer da parte dos Anjos, quer dos demónios — pode surtir o seu efeito: nenhum anjo pode constranger o homem a uma boa acção e nenhum demónio o pode fazer pecar.

Deus dotou o homem de vontade livre, dom natural inapreciável, que lhe permite decidir se acolhe ou não as boas inspirações, se cede ou não às tentações, por mais que estas possam ser apresentadas com grande habilidade e astúcia, comprometendo a fantasia, ou com veemência, exacerbando as paixões e os instintos. O homem não é um mero objecto passivo de disputa entre os Anjos e os demónios, nem simples espectador inerte, mas um sujeito eminentemente activo e operante. Os autores costumam ressaltar os perigos de uma pretensa mística, que conduz ao abandono voluntário da inteligência e da vontade. É certo que Deus nos pode conceder a graça excepcional da contemplacção passiva dos místicos; isso, porém, só acontece por uma eleição gratuita exclusiva de Deus, sem cooperação de nossa parte, a não ser uma humilde prontidão em fundir inteiramente a nossa vontade com a divina, unindo-nos misticamente com Deus.

Se, entretanto, procuramos culpavelmente provocar em nós mesmos essa passividade da vontade (por exemplo, por meio do hipnotismo, do transe, do uso de estupefacientes e narcóticos de vários tipos, de técnicas corporais ou espirituais), podemos transferir-nos para o mundo do preter-sensível, como acontece no sono e na contemplacção mística. Mas esse estado, ao invés de nos elevar nas vias luminosas dos êxtases, pode arrastar-nos para baixo, rumo a escuros abismos, onde não encontraremos Anjos e sim demónios, que nos tratarão como presas sem vontade, podendo levar-nos à possessão.

De onde o perigo de certas escolas ou correntes que se apresentam como meras técnicas de meditação, de concentracção espiritual ou coisa parecida, as quais, infelizmente, têm encontrado aceitação até mesmo em sectores e movimentos católicos. (Escrevem Noldin-Schmitt: “As Gnoses modernas que seguem teósofos e antropósofos e as técnicas de meditação e concentracção hinduístas (ioga, budismo), que buscam conhecer ordens superiores não estão isentas de influxo demoníaco, especialmente quando directamente buscados” (H. Noldin-A. Schmitt, Summa Theologiae Moralis, II, nn, 1 48ss, pp 138-155).)


Evitar toda superstição, refrear a vã curiosidade e não se iniciar em prácticas que facilmente poderão sair do seu controlo.
 
Aquilo que Deus quis que soubéssemos a esse respeito, Ele, na sua bondade e misericórdia, revelou aos homens e colocou essa Revelação sob a guarda e a interpretação da Santa Igreja. É aí que devemos procurá-la, de acordo com as nossas capacidades, e não nas falácias de adivinhos e de médiuns mesquinhos ou charlatães, com risco de entrar em promiscuidade com os espíritos infernais.

Quanto ao nosso futuro imediato, terreno, também devemos respeitar o mistério no qual Deus o mantém envolto. Podemos rezar pedindo-Lhe que nos esclareça algo através dos Anjos de Luz, se essa for a Sua vontade e se isso for útil para a nossa eterna salvação. Porém, ir mais longe é correr o risco de cair em superstição e assim ficarmos expostos ao demónio, como também faltar com a confiança em Deus, que sabe melhor do que nós o que nos convém conhecer. Devemos antes agradecer-Lhe por nos poupar tantas angústias, escondendo-nos hoje os males e preocupações de amanhã. Como disse o Salvador:"A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6, 34).

(Fonte: internet. Autoria:“Anjos e Demónios - A Luta Contra o Poder das Trevas”, Gustavo Antônio Solímeo - Luiz Sérgio Solímeo)

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