A luta contra o poder das trevas
Depois de termos estudado a
actividade demoníaca ordinária (a tentação) e a actividade extraordinária
(infestação pessoal e local, possessão), de ter visto os critérios para o
diagnóstico dessas manifestações, parece-nos indispensável dar aqui os meios
que temos para fazer face às investidas diabólicas. O homem não está desarmado
diante do poder das trevas. Ele dispõe de armas sobrenaturais e também naturais
com que enfrentar as investidas diabólicas. Primeiramente, cabe ver de que
meios preventivos dispomos; ou seja, como fazer para evitar, tanto quanto está
em nós, as investidas do demónio. A seguir, quais os meios terapeuticos à nossa
disposição, para nos curarmos, caso nos ocorra sermos atingidos por tais
investidas. Esses meios podem-se chamar remédios, porque a acção demoníaca
provoca em nós distúrbios que não são menos incomodos que as enfermidades do
corpo. E assim como as doenças do corpo podem conduzir à morte física, a
actuação do demónio visa produzir a morte da alma.
Remédios gerais,
preventivos e libertadores
“E não nos deixeis cair em
tentação,
mas livrai-nos do mal”.
(Mt 6, 13)
Os autores recomendam, em
primeiro lugar, os remédios gerais oferecidos pela Igreja:
- Práticas religiosas e
devocionais
- Oração e penitência;
sacramentos e sacramentais
Antes de qualquer outro, vem
o grande remédio indicado pelo próprio Salvador, como o único capaz de vencer
uma certa casta de demónios — a oração e o jejum, acompanhados pela aquela fé
que move as montanhas (cf. Mt 17, 14-20).
A oração por excelência é
aquela que o próprio Cristo ensinou quando os seus discípulos Lhe pediram:
“Senhor, ensina-nos a rezar" — o Pai-Nosso (Lc 11, 1-4; Mt 6,9-13).
Nas duas últimas petições,
rogamos ao Pai celeste que nos dê forças para resistir aos assédios da carne,
do mundo e do demónio: “Não nos deixeis cair em tentação"; e que nos livre
do mal, do supremo mal — o pecado e o seu instigador — o demónio: livrai-nos do
mal” ou “livrai-nos do Maligno”.* A liturgia em várias cerimonias recita o
Pai-Nosso, todo ou, apenas essas duas petições. É recitado por inteiro nos
exorcismos solenes sobre possessos.
* Os especialistas explicam
que, no texto grego dos Evangelhos, podemos entender essa petição tanto no sentido
de sermos livres do mal, como do autor do mal, o Maligno, o demónio. “De facto,
as duas interpretações não se excluem — comenta o P. Jean Carmignac - uma vez
que o fim do demónio é o pecado e o pecado tem o demónio por instigador. Contudo, segundo as directrizes de Cristo,
devemos pedir o afastamento não somente do pecado, mas sobretudo do demónio”
(Abbé Jean Carmignac, Á l´écoute du Notre Père, Éditions de Paris, 1971, p. 87;
no mesmo sentido, J. de Tonquédec S.J., Quelques aspects de l´action de Satan
en ce monde, p. 496, nota 5).
Depois vem a Ave-Maria —
louvor da Mãe de Jesus, a qual, por sua Imaculada Concepção, esmaga para sempre
a cabeça da antiga serpente. É
igualmente recitada nos exorcismos sobre possessos.
Por fim, o Credo — Creio em
Deus Pai — solene profissão de fé católica, que infunde especial terror ao
demónio; também é recitado nos exorcismos sobre possessos.
Junto com a oração e a
penitência, é indispensável a frequência aos sacramentos, sobretudo da
Confissão e da Comunhão; assim como o uso de sacramentais (como a água-benta e
o Agnus Dei) e de objectos bentos (velas, escapulários, imagens, cruzes,
medalhas - particularmente a Medalha Milagrosa e a medalha-cruz exorcistica de
São Bento).
Devemos lembrar também o
poder do Sinal da Cruz para afugentar o demónio: o símbolo da nossa Redenção,
que destruiu o seu reino, causa-lhe particular terror; o demónio foge... como o
diabo da cruz...— segundo o dito popular.
Além das quatro cruzes que se
fazem no Sinal da Cruz, as próprias palavras pronunciadas são de natureza
exorcística deprecatória: "Pelo sinal (+) da Santa Cruz, livrai-nos Deus
(+) Nosso Senhor, dos nossos (+) inimigos. Em nome do Pai, e do Filho, (+) e do
Espírito Santo. Amém."
Por isso devemos fazer o
Sinal da Cruz nas mais diversas ocasiões: ao levantar e ao deitar, antes das
refeições, ao sair de casa, nas viagens, antes de tomar alguma resolução…
A água-benta é feita
expressamente para afastar dos lugares e das pessoas sobre as quais é aspergida
“todo o poder do inimigo e o próprio inimigo com seus Anjos apóstatas” conforme
se lê no Ritual Romano. (Rituale Romanum, tit. VIII, c. 2.). São numerosas no
mesmo Ritual as bênçãos, orações e cerimônias com o mesmo fim, aplicadas a
objectos e lugares diversos, as quais contém a mesma fórmula deprecatória
contra Satanás.
A confissão: mais forte
que o exorcismo
Convém insistir na confissão
frequente pelo empenho dos teólogos e dos exorcistas quanto à sua eficácia -
apesar das dificuldades que hoje se apresentam para essa prática sacramental.
O exorcista da arquidiocese
de Veneza, Pe. Pellegrino Emetti, da Ordem de São Bento, enfatiza: “O
sacramento da Confissão, nós o sabemos, é a segunda tábua de salvação depois do
Baptismo. ... A experiência ensina que dificilmente Satanás consegue penetrar
numa alma que se lava frequentemente com o Sangue preciosíssirno de Jesus. Este
sangue torna-se a verdadeira couraça contra a qual Satanás pode forçar, porém
não consegue abrir nenhuma brecha. A frequência assídua e constante desse sacramento
é necessária, seja para quem faz o exorcismo, seja para quem dele tem
necessidade. Estou certo, por uma longa experiência, que o sacerdote deveria
lavar a sua alma no sangue de Jesus até mesmo diariamente, se quiser lutar
juntamente com Jesus contra Satanás, e sair vitorioso. É verdadeiramente este o
sacramento do qual Satanás tem medo ... Cristo venceu Satanás com o próprio
Sangue. E o Apocalipse explicitamente nos diz: "Estes são aqueles que
venceram Satanás com o Sangue do Cordeiro “. (D. P. Ernetti O.S.B., La
Catechesi di Satana, p. 251.)
É igualmente taxativo o Pe. Gabriele Amorth,
exorcista da diocese de Roma: “Muitas vezes escrevi que se causa muito mais
raiva ao demónio confessando-se, ou seja, arrancando do demónio a alma, do que exorcizando e arrancando-lhe assim o corpo.
... A confissão é mais forte que o exorcismo“. (G. Amorth, Un esorcista
racconta, pp. 63 e 86.)
Desprezo soberano ao
demónio
A esses meios, os santos e
autores espirituais acrescentam o desprezo soberano ao demónio.
Ouçamos Santa Teresa: “É
muito frequente que esses espíritos malditos me atormentem; mas eles me
inspiram muito pouco medo, porque, eu o vejo bem, eles não podem sequer
mexer-se sem a permissão de Deus... Que se saiba bem: todas as vezes que nós
desprezamos os demónios, eles perdem a sua força e a alma adquire sobre eles
mais domínio... Verem-se desprezados por seres mais fracos, é, com efeito, uma rude humilhacção para esses soberbos.
Ora, apoiados humildemente em Deus, nós temos o direito e o dever de os
desprezar: Se Deus está connosco, quem será contra nós? Eles podem latir, mas
não nos podem morder, senão no caso em que — seja por imprudência, seja por
orgulho — nos coloquemos em seu poder”. (Apud Ad. Tanquerey - Jean Gautier, Abrégé de Théologie
Ascétique et Mystique, p. 112.)
É evidente que não devemos
confundir esse desprezo ao demónio com a vã pretensão de que, por nós mesmos,
temos algum poder sobre os Anjos caídos. Por natureza não temos nenhum poder
sobre eles; pelo contrário, pela sua natureza superior, eles é que podem ter
domínio sobre nós. A base desse desprezo salutar aos inimigos infernais tem de
ser a mais perfeita humildade e a confiança verdadeira e não temerária no
Criador, em Jesus e na Santíssima Virgem. Tomados esses cuidados, convém fazer
o que a grande Santa Teresa indica com tanta propriedade.
Sobretudo, devemo-nos
esforçar por ter uma vida de piedade séria e autêntica, sem superstições nem
sentimentalismos. Sem julgar os nossos semelhantes. Isto manterá o demónio
distante de nós, o quanto é possível.
Fortalecimento da
inteligência e da vontade
Um grande meio preventivo na
luta contra o demónio é o fortalecimento da nossa inteligência e da nossa
vontade. Com efeito, a principal defesa de ordem natural que temos contra as
investidas dos espíritos malignos é a inviolabilidade dessas faculdades
superiores, as quais nos assemelham a Deus. Na medida em que permitimos o seu
enfraquecimento, estamo-nos a colocar à mercê de Satanás e dos seus seguidores.
O demónio tem lucrado tanto com o enlouquecimento geral a que assistimos nos
nossos dias, que é caso de perguntar se não é ele quem o está a provocar.
Sem o consentimento da
vontade humana, nenhuma acção externa — quer da parte dos Anjos, quer dos
demónios — pode surtir o seu efeito: nenhum anjo pode constranger o homem a uma
boa acção e nenhum demónio o pode fazer pecar.
Deus dotou o homem de vontade
livre, dom natural inapreciável, que lhe permite decidir se acolhe ou não as
boas inspirações, se cede ou não às tentações, por mais que estas possam ser
apresentadas com grande habilidade e astúcia, comprometendo a fantasia, ou com
veemência, exacerbando as paixões e os instintos. O homem não é um mero objecto
passivo de disputa entre os Anjos e os demónios, nem simples espectador inerte,
mas um sujeito eminentemente activo e operante. Os autores costumam ressaltar
os perigos de uma pretensa mística, que conduz ao abandono voluntário da
inteligência e da vontade. É certo que Deus nos pode conceder a graça
excepcional da contemplacção passiva dos místicos; isso, porém, só acontece por
uma eleição gratuita exclusiva de Deus, sem cooperação de nossa parte, a não
ser uma humilde prontidão em fundir inteiramente a nossa vontade com a divina,
unindo-nos misticamente com Deus.
Se, entretanto, procuramos
culpavelmente provocar em nós mesmos essa passividade da vontade (por exemplo,
por meio do hipnotismo, do transe, do uso de estupefacientes e narcóticos de
vários tipos, de técnicas corporais ou espirituais), podemos transferir-nos
para o mundo do preter-sensível, como acontece no sono e na contemplacção
mística. Mas esse estado, ao invés de nos elevar nas vias luminosas dos
êxtases, pode arrastar-nos para baixo, rumo a escuros abismos, onde não
encontraremos Anjos e sim demónios, que nos tratarão como presas sem vontade,
podendo levar-nos à possessão.
De onde o perigo de certas
escolas ou correntes que se apresentam como meras técnicas de meditação, de
concentracção espiritual ou coisa parecida, as quais, infelizmente, têm
encontrado aceitação até mesmo em sectores e movimentos católicos. (Escrevem
Noldin-Schmitt: “As Gnoses modernas que seguem teósofos e antropósofos e as
técnicas de meditação e concentracção hinduístas (ioga, budismo), que buscam
conhecer ordens superiores não estão isentas de influxo demoníaco,
especialmente quando directamente buscados” (H. Noldin-A. Schmitt, Summa
Theologiae Moralis, II, nn, 1 48ss, pp 138-155).)
Evitar toda superstição,
refrear a vã curiosidade e não se iniciar em prácticas que facilmente poderão
sair do seu controlo.
Aquilo que Deus quis que
soubéssemos a esse respeito, Ele, na sua bondade e misericórdia, revelou aos
homens e colocou essa Revelação sob a guarda e a interpretação da Santa Igreja.
É aí que devemos procurá-la, de acordo com as nossas capacidades, e não nas
falácias de adivinhos e de médiuns mesquinhos ou charlatães, com risco de
entrar em promiscuidade com os espíritos infernais.
Quanto ao nosso futuro
imediato, terreno, também devemos respeitar o mistério no qual Deus o mantém
envolto. Podemos rezar pedindo-Lhe que nos esclareça algo através dos Anjos de
Luz, se essa for a Sua vontade e se isso for útil para a nossa eterna salvação.
Porém, ir mais longe é correr o risco de cair em superstição e assim ficarmos
expostos ao demónio, como também faltar com a confiança em Deus, que sabe
melhor do que nós o que nos convém conhecer. Devemos antes agradecer-Lhe por
nos poupar tantas angústias, escondendo-nos hoje os males e preocupações de
amanhã. Como disse o Salvador:"A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6, 34).
(Fonte: internet.
Autoria:“Anjos e Demónios - A Luta Contra o Poder das Trevas”, Gustavo Antônio
Solímeo - Luiz Sérgio Solímeo)
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