Afinal quem é o medium?
1. Introdução
Para introduzir este tema,
façamos algumas perguntas: o que é a mediunidade? Como funciona? Como podemos
identificar os vários tipos de mediunidade? Somos todos médiuns?
2. Conceito
Identificar. Perceber os
elementos característicos de algo; reconhecer.
Mediunidade - É a
faculdade humana, natural, pela qual se estabelecem as relações entre homens e
entidades espirituais.
3. Considerações iniciais
A mediunidade, desde que o
homem é homem, sempre existiu pois faz parte da natureza humana. Os primeiros passos dos povos primitivos foram
através do sono e dos sonhos – as minhas comunicações mais intensas e esclarecedoras. O professor
José Herculano Pires, no livro “O Espírito e o Tempo”, faz um estudo histórico
da mediunidade, analisando-a dentro dos vários horizontes culturais da
humanidade até à sua positivação com a vinda de Allan Kardec.
Na mediunidade, há uma
relação entre médium e Espírito, tal qual a do hipnotizador com o hipnotizado.
O médium profundo – existem vários gêneros de mediuns - cede voluntariamente ao
apelo que é exercido sobre ele e renuncia à sua vontade e à sua consciência de
modo absoluto. Assim, ao despertar do “transe”, perguntará às pessoas: o que
aconteceu mas, no seu coração, guarda a essência luminosa do contacto.
A mediunidade não ficou imune
às investidas dos descrentes, que divulgaram cenas horripilantes de médiuns e
associaram-nos à feitiçaria e outras práticas ocultas de natureza negativa.
Sabemos que os espalhafatos são quase sempre levados a cabo por “charlatães”
que entretêm quem aprecia espectáculos decadentes; por médiuns que contactam
Anjos Caídos ou outras entidades negativas, ou, pessoas que clinicamente não
estão bem.
Os cépticos disseram que os
médiuns eram pessoas ignorantes e perigosas, taciturnas e sibilinas, capazes,
no melhor dos casos, de pactos negros. O médium é, assim, apresentado como um
indivíduo delicado, doentio, hipersensível, extremamente pálido, com pouca
vitalidade e a dois passos da psicose.
Para Lombroso, porém, a
mediunidade apresenta-se de outro modo: “A inteligência do médium pode variar
da ultra-mediocridade de Politi ao espírito superior de Mlle. D’Esperance, mas
em transe, o médium mais estúpido pode manifestar uma inteligência
extraordinária.
Quanto à moralidade, alguns
médiuns são lascivos e libertinos influenciados pelos “contactos baixos”,
enquanto outros se dedicam a “vidas de santidade”, como Miss Smith e Stanton
Moses.
Nota importante: Eu
classifico os mediuns como pessoas sensíveis, atentas às pessoas e à vida,
tanto na sua dimensão material como espiritual. Esta capacidade é evolutiva
mas, não se trata de desenvolver indiscriminadamente o potencial mediúnico,
trata-se sim de tonificar e afinar essas faculdades.
4. A mediunidade: aspectos gerais
4.1. Manifestações
mediúnicas
A Mediunidade é uma só, é um
todo, mas deve ser encarada nos seus vários aspectos funcionais, que são
caracterizados por formas diferentes de manifestação.
Kardec dividiu-a, para
efeitos metodológicos, em duas grandes áreas bem diferenciadas:
- A mediunidade de efeitos
físicos - manifestações físicas que se traduzem por efeitos sensoriais, tais
como barulhos, aromas, movimentos e visões. Estas expressões podem ser
espontâneas ou provocadas.
- A mediunidade de efeitos
intelectuais - na manifestação intelectual é suficiente que o medium viva um
acto livre e voluntário, que exprima uma intenção espiritual ou que responda a
um pensamento.
4.2. Mediunidade natural e
de prova
A terminologia espírita
adoptada por Kardec é simples e precisa. Mas no tocante às duas áreas fundamentais
dos fenómenos de efeitos intelectuais e físicos, seria necessário um acréscimo.
Além da divisão fenomenal, temos a divisão funcional.
Possuímos, assim, duas áreas
de função mediúnica, designadas como:
- A mediunidade generalizada.
- Corresponde à mediunidade que todos os seres humanos possuem.
- O mediunato. - Corresponde
à mediunidade de compromisso, ou seja, de médiuns investidos espiritualmente de
poderes mediúnicos para finalidades específicas nesta dimensão encarnada.
A primeira e a segunda
correspondem respectivamente à mediunidade estática e dinâmica na classificação
de Crawford.
4.3. Mediunismo,
mediunidade, fenómeno mediúnico, fenómeno anímico e animismo
Para que possamos identificar
a mediunidade, tenhamos em mente as distinções entre fenómeno anímico, fenómeno
mediúnico, animismo e mediunismo.
- No fenómeno anímico, não há
interferência fisica de Espíritos desencarnados. O facto dá-se de alma para
alma, por isso anímico. Ex.: Telepatia, que é a comunicacção de mente para
mente.
- No fenómeno mediúnico, há
um Espírito desencarnado que deseja comunicar com os encarnados através de um
médium.
- O animismo é a influência
que o médium exerce na comunicacção do Espírito desencarnado.
- A expressão mediunismo,
criada pelo Espírito Emmanuel, designa as formas primitivas de mediunidade que
fundamentam as crenças e religiões primitivas.
5. Gêneros de mediunidade
5.1. Variedades comuns a
todos os gêneros de mediunidade
- Médiuns sensitivos: pessoas
suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma impressão local, vaga ou
material. A maior parte distingue os Espíritos bons ou maus, segundo a natureza
da impressão.
- Médiuns naturais ou
inconscientes: os que produzem os fenómenos espontaneamente, sem nenhuma
participação da sua vontade e a maioria das vezes sem o saberem.
- Médiuns facultativos ou
voluntários: os que têm o poder de provocar os fenómenos por um acto da sua
vontade.
5.2. Variedades especiais
para os efeitos físicos (as principais categorias)
- Médiuns tiptólogos: aqueles
por cuja influência se produzem os barulhos e as pancadas.
- Médiuns de transporte: os
que podem servir de auxiliares para os Espíritos realizarem acções materiais.
- Médiuns curadores: os que
têm o poder de curar, de aliviar ou consolar pela imposição das mãos ou pela
prece.
5.3. Variedades especiais
para os efeitos intelectuais (algumas delas)
- Médiuns auditivos: os que
ouvem os espíritos. Muito comum. “Há muitas pessoas que se afiguram ouvir o que
lhes está apenas na imaginação”
- Médiuns falantes
(psicofonia): os que falam sob a influência dos Espíritos. Muito comuns.
-Médiuns psicógrafos:
possuem a faculdade da comunicacção por meio da escrita automática e podem
dividir-se em: médiuns mecânicos, semi-mecânicos, intuitivos…
6. Advertências e recomendações
6.1. Os grandes médiuns e
suas provações
Os grandes médiuns, os que
foram capazes de realizar coisas extraordinárias, foram também os que mais
sofreram no físico e no intelectual o efeito devastador de uma excessiva
dependência dos espíritos. As irmãs Fox, que deram início à invasão organizada
dos Espíritos, acabaram desequilibradas psiquicamente. O mesmo ocorreu a
Douglas Home. Ch. Forster, médium famoso, por exemplo, morreu num hospício.
Diz-se que Chico Xavier também estaria debilitadíssimo mas, dada a sua doença é
difícil avaliar.
6.2. Preparação do médium
Nada de relevante se faz sem
um devido propósito. Por isso, antes de empreender um contacto mediúnico é bom
consultar as próprias forças e disposições íntimas. Assim, devemos primar por:
- Elevados sentimentos,
inspirações, método e paciência.
- As invocações devem ser
feitas com seriedade, fé e protecção de Entidades de Luz ou do Guia Espiritual.
- Qualquer fracasso nas
primeiras sessões não deve desvanecer a dedicação para as próximas.
Quem encara a mediunidade
como uma espécie de jogo, desrespeita a Luz divina que cintila dentro de
si. Nega o caminho que Deus lhe traçou
pois se Deus despreza-se os mediuns não daria o embrião dessa capacidade a todos
os humanos. Ainda, a Igreja Católica só recentemente assumiu erros cometidos ao
colocar num saco negro feiticeiros das trevas, mediuns e pessoas portadoras de
doença psiquica.
6.3. Recolhimento e
humildade
O contacto com o mundo
espiritual deve ser feito com um sentimento de humildade e vigilância -
protecção para que não sejamos presas fáceis de Espíritos imperfeitos.
Tenhamos em mente que somos
apenas um veículo, um intermediário entre duas dimensões, por vontade divina.
Sendo assim, exercitemos o discernimento para aceitar as comunicações dos
Espíritos superiores e rejeitar as dos Espíritos negativos, que querem somente
a nossa perdição.
Por outro lado, conheço
pessoalmente dois casos de pessoas que enquanto negaram a sua mediunidade
conheceram diversas adversidades na vida. Não conseguiam harmonizar-se,
consideravam-se mesmo improdutivas vivendo sempre em sofrimento.
Nem sempre o medium deve
transmitir as mensagens que recebe para não interferir na vida das pessoas de
uma forma manipulativa. Sobretudo o medium que experimenta contactos
espontâneos que muitas vezes são realizados por espiritos nagativos (ou génios
do mal, anjos caídos…). Outras vezes, o medium é tão solicitado, ou tão
intensamente, que ele próprio fica confuso, não conseguindo interpretar as
mensagens.
De qualquer forma, se o
medium não encontra uma comunidade em que se possa expressar, fica votado a uma
vida marginal que acaba por o levar ao isolamento. Triste é quando essa pessoa
não se aceita pela sua diferença, põe em causa a sua sanidade mental e, tenta
por todos os meios viver uma vida secreta e “normal”.
A humildade e o recolhimento
são a plataforma para o medium encontrar o seu ponto de equilíbrio e,
estabelecer a estrutura que convém à sua natureza e aceitar-se na sua condição
de coração de fé, contemplador de Cristo, adorador dos anjos e incondicional
adorador do criador.
Outro facto que constatei foi
que o medium é, quase sempre, amorosamente solitário. Apesar da sua imensa e
plástica capacidade de amar, apesar da sua entrega desinteressada não conseguem
estabelecer um nó cego intímo e equilibrado. Talvez pelo segredo, talvez porque
a sua devoção é dirigida a Deus, talvez porque se sentem amarrados a relações
cármicas… talvez pela interferência de memóras de vidas passadas que são
inflamadas pelos contactos mediúnicos.
Um medium que não pratica a
contemplação dos espiritos de Luz, que não exerce com liberdade e honestidade
as suas capacidades, que não se entrega ao amor divino e não é sincero na
humildade, afunda-se em medos e problemas. É um inadaptado que se expõe à
negatividade.
7. Conclusão
Identificar o género de
mediunidade, ou saber se a comunicacção é mediúnica ou não, mostra apenas a
mecânica da mediunidade. O mediunismo, ensina-nos que o mais importante são as
nossas transformações morais, e, o medium que não se liberta nunca as alcança.
Renova-se e consome-se em ciclos de esperança que terminam sempre no mesmo
patamar, o vaziu.
E quanto mais o medium se
fechar, maior será a sua vulnerabilidade e desespero.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Olá, seja bem vindo!
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.